19.4.11

"Aceitar": Amizade Confirmada

Em outras épocas, o abraço e a conversa ao pé do ouvido eram considerados formas de carinho. A carta era sinônimo de saudade. E a intimidade entre duas pessoas restringia-se somente a duas pessoas. No entanto, estamos vivendo a época da web 2.0. A época do Rafinha. O que significa que nem sempre pensar é logo existir e, sim, ser visto é o fundamental.

Em um mundo anterior ao mundo da internet, a relação interpessoal era mais valorizada. Estar junto de alguém, era realmente estar ao lado. Fisicamente. Não havia a ideia de que para ser amigo bastava apertar o botão “aceitar” e pronto: amizade confirmada. Sem dúvidas, as pessoas se conheciam mais, ou melhor, a relação era menos superficial, menos “facebookeada”.

A impressão era de que o mundo girava mais devagar. Os acontecimentos não tinham pressa em aparecer e a regra natural do tempo era respeitada. Mas, isso acabou. Definitivamente, acabou. Agora, o mundo gira de maneira acelerada, rompendo o limite dos ponteiros e esgarçando as fronteiras. Ou alguém ainda ousa dizer que há algum tipo de fronteira? O mapa foi redesenhado, as distâncias foram encurtadas. O mundo entrou na época da globalização.

Agora, basta um clique ou um www e pronto, você é global. Facebook, Twitter, MySpace, Orkut, Flickr, YouTube são a web 2.0, são elementos do novo mundo. O Rafinha tem uma conta em cada um deles, afinal, ele é o estereótipo dessa web. É gerador de conteúdo e voraz pela aparição, ou seja, não o interessa mais a intimidade entre duas pessoas e somente duas pessoas. Quer dizer, o interessa sim, mas não mais entre pessoas e, sim, entre  pessoas e máquinas. O computador tornou-se o melhor amigo. Abandonaram-se os cães.

Há quem diga que estamos apontando para a mediocridade, estamos emburrecendo. Ou então, virando amadores de nós mesmos. Amador não no sentido lúdico da palavra, como naquela época em que a carta era sinônimo de saudade. Mas, amador no sentido de não nos conhecermos na essência. Afinal, viramos simples perfis.

A praticidade desse novo mundo é inegável. A difusão de ideias é espetacular e nunca vista antes. O “lá” é logo “ali”. E isso faz muita diferença. Entretanto, até que ponto isso é válido? Até que ponto é vantajoso estar no Japão e no Brasil ao mesmo tempo? Imagine quantas culturas, quantas pessoas, quantos idiomas, quantas paisagens ou, simplesmente, quantas faces seriam vistas e conhecidas, caso esse longo caminho entre os dois países não durasse apenas um minuto, o tempo de carregar a página.

Enfim, isso não é hipocrisia. Realmente, esse texto não é escrito à mão, é digitado. Assumo que o facebook está atualizado e o twitter, twittado. Mas, a essência e a reflexão são daquela época em o abraço e a conversa ao pé do ouvido eram considerados formas de carinho. Ah, se o Rafinha pudesse sentir o calor de um abraço!


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